quarta-feira, 9 de outubro de 2013
quarta-feira, 14 de agosto de 2013
O Que é Sociologia - ANTHONY GIDDENS
Começo do século XXI, período marcado por mudanças. Possibilidades da humanidade controlar seus destinos, moldar as vidas para melhor. Mas “como esse mundo surgiu? Por que nossas condições de vida são tão diferentes daquelas de nossos pais e avós? Que direção as mudanças tomarão no futuro? Essas questões são a principal preocupação da sociologia. (p. 24) − “A abrangência do estudo sociológico é extremamente vasta, incluindo desde a análise de encontros ocasionais entre indivíduos na rua até a investigação de processos sociais globais” (p. 24) − a sociologia explica que os “dados” da nossa vida são fortemente influenciados por forças históricas e sociais; entender estas influências é fundamental para a abordagem sociológica. − “Aprender a pensar sociologicamente – olhando – em outras palavras, de forma mais ampla – significa cultivar a imaginação.
Aprender a pensar sociologicamente - em outras palavras, usar um enfoque mais amplo- significa cultivar a imaginação. O trabalho sociológico depende de algo que o autor americano Wright Mills, em uma célebre expressão, denominou de imaginação sociológica (Mills, 1970).
A imaginação sociológica nos pede, sobretudo, que sejamos capazes de pensar nos distanciando das rotinas familiares de nossas vidas cotidianas, para poder vê-las como se fossem algo novo.
Uma pausa para o cafezinho. O que Anthony Giddes, do ponto de vista sociológico, tem a nós dizer sobre o ato de beber um cafezinho. Acerca de um comportamento aparentemente tão desinteressante?
Podemos começar por notar que o café não é meramente uma bebida. Enquanto parte das nossas atividades sociais quotidianas possui um valor simbólico. O ritual associado ao ato de tomar café é freqüentemente muito mais importante que o consumo de café propriamente dito. Duas pessoas que combinam encontrar-se para tomar café estarão provavelmente mais interessadas em estarem juntas e conversarem do que em beber, de fato, café. Em todas as sociedades, na realidade, beber e comer proporciona ocasiões para a interação social e o desempenho de rituais – e tal fornece temáticas ricas para o estudo sociológico.
Em segundo lugar, o café é uma droga, pois contém cafeína, que exerce no cérebro um efeito estimulante. Os adictos em café não são vistos pela maioria das pessoas no Ocidente como consumidores de droga. O café, tal como o álcool, é uma droga socialmente aceitável, enquanto a marijuana, por exemplo, não o é. No entanto, há sociedade que permitem o consumo de marijuana e mesmo de cocaína, mas desaprovam tanto o café como o álcool. Os sociólogos estão interessados nas razões pelas quais estes contrastes existem.
Em terceiro lugar, um indivíduo que bebe uma chávena de café está envolvido numa complicada rede de relações sociais e econômicas de dimensão internacional. O café é um produto que liga as pessoas de algumas das partes mais ricas e mais pobres do planeta: é consumido em grande quantidade nos países ricos, mas cultivado fundamentalmente nos pobres. Depois do petróleo, o café é a mercadoria mais valiosa do comércio internacional, representando a principal exportação de muitos países. A produção, transporte e distribuição do café implicam transações constantes que envolvem pessoas a milhares de quilômetros dos consumidores. Estudar estas transações globais é uma tarefa importante na sociologia, na medida em que muitos aspectos das nossas vidas são hoje afetados por influências sociais e comunicações a nível mundial.
Em quarto lugar, o ato de beber uma chávena de café pressupõe todo um processo de desenvolvimento social e econômico passado. Com outros artigos hoje familiares nas dietas ocidentais – como o chá, as bananas, as batatas e o açúcar – o café tornou-se um produto de consumo generalizado somente nos finais do século XIX. Embora seja uma bebida originária do Médio Oriente o seu consumo maciço data do período da expansão colonial ocidental, há cerca de um século e meio atrás. Praticamente todo o café que se bebe nos países ocidentais provém de áreas colonizadas pelos europeus; não é de maneira nenhuma, um elemento “natural” da dieta ocidental. A herança colonial teve um impacto enorme sobre o desenvolvimento do comércio mundial de café.
Em quinto lugar, o café é um produto que está no centro do debate atual em torno da globalização, do comércio mundial, dos direitos humanos e da destruição ambiental. À medida que o café aumentou a sua popularidade, tornou-se um produto politizado e um assunto de marketing: as escolhas dos consumidores sobre que tipo de café e onde comprar tornaram-se opções de estilo de vida. As pessoas podem escolher beber apenas café orgânico, café descafeinado naturalmente ou café comerciado a preços “justos” (através de esquemas que pagam o total do preço de mercado a pequenos produtores de café em países em vias de desenvolvimento). Podem optar por apoiar cafeterias “independentes”, em vez das cadeias internacionais de cafeterias como a “Starbucks”. Os consumidores de café podem decidir boicotar café proveniente de determinados países onde haja pouco respeito pelos direitos humanos e o ambiente natural. “Para os sociólogos, é interessante perceber de que forma a globalização aumenta a consciência das pessoas acerca de questões que se passam em pontes remotas do planeta, incentivando-as a atuar no dia-a-dia em função desse novo conhecimento.”
Resenha:
GIDDENS, ANTHONY. Sociologia. 4 ed. Porto Alegre:Editora Artmed,2005 ,p. 24-27
quinta-feira, 4 de julho de 2013
domingo, 30 de junho de 2013
Pierre Bourdieau
De volta a Paris, Pierre Bourdieu foi assistente de Raymond Aron, importante filósofo, sociólogo e comentarista político da França na Faculdade de Letras de Paris. Foi no mesmo, 1960, que se tornou membro do Centro de Sociologia Europeia, no qual ocuparia o cargo de secretário-geral dois anos depois. Seu retorno à França marca também o início de sua volumosa produção científica. Sua publicação entre as décadas de 1960 e 1980 o caracteriza como importante sociólogo do século XX. A repercussão de suas reflexões o leva a lecionar em importantes universidades do mundo. Pierre Bourdieu destacou-se por propor uma crítica sobre a formação do sociólogo, buscando o que ficou identificado como “Sociologia da Sociologia”.
Pierre Bourdieu tornou-se referência na Antropologia e na Sociologia publicando trabalhos sobre educação, cultura, literatura, arte, mídia, linguística e política. Suas reflexões dialogavam tanto com as esferas de Max Weber, como com as classes de Karl Marx. Adotando a nomenclatura de construtivismo estruturalista ou de estruturalismo construtivista, Bourdieu argumentava que há estruturas objetivas no mundo social que podem coagir a ação dos indivíduos. Todavia essas estruturas são construídas socialmente. Por outro lado, Pierre Bourdieu rejeitava a dicotomia subjetivismo/objetivismo nas ciências humanas, dizendo que as relações sociais estão numa relação dialética.
Partindo do princípio anterior, destaca-se uma das questões mais importantes apresentadas no pensamento de Pierre Bourdieu: a análise de como os indivíduos incorporam a estrutura social, legitimando-a e reproduzindo-a. Seu mundo social era construído sobre três conceitos: campo, habitus e capital. O primeiro representa um espaço simbólico no qual os confrontos legitimam as representações. É o poder simbólico que classifica os símbolos de acordo com a existência ou ausência de um código de valores. O conceito de habitus discorre sobre a capacidade dos sentimentos, dos pensamentos e das ações dos indivíduos de incorporar determinada estrutura social. Já o capital representa o acúmulo de forças que o indivíduo pode alcançar no campo. Pierre Bourdieu é o autor dos subconceitos de capital social, capital cultural, capital econômico e capital simbólico.
Com sua vasta produção intelectual, Pierre Bourdieu recebeu o título de Doutor honoris causa em três importantes instituições da Europa: na Universidade Livre de Berlim, em 1989, na Universidade Johann Wolfgang Goethe, em 1996, e na Universidade de Atenas, no mesmo ano. Pierre Bourdieu faleceu no dia 23 de janeiro de 2002 na cidade de Paris.
http://www.espacoacademico.com.br/010/10bourdieu02.htm
via infoescola
Norbert Elias - a teoria sociológica: Teias de interdependência
O sociólogo alemão Norbert Elias (1897-1990) foi responsável pelo desenvolvimento de uma teoria social inovadora, que serviu para alargar o campo dos estudos sociológicos voltados à elucidação de processos sociais, ou seja, dos processos de interação humana no âmbito da sociedade.
De acordo com Elias, a principal tarefa da sociologia é "(...) alargar nossa compreensão dos processos humanos e sociais e adquirir uma base crescente de conhecimento mais sólido acerca desses processos".
A teoria sociológica formulada por Elias pode ser considerada uma abordagem de caráter crítico, cujos conceitos fundamentais foram construídos a partir da identificação das deficiências e limitações de perspectivas teóricas consideradas clássicas pelas ciências sociais, associadas, sobretudo, ao funcionalismo parsoniano (do sociólogo norte-americano Talcott Parsons) e a certas versões do estruturalismo.
As críticas dirigidas a essas abordagens teóricas centram-se, em primeiro plano, na refutação do arcabouço conceitual empregado, que provém da transposição de conceitos do campo das ciências naturais, em particular da física, da química e da biologia, cuja assimilação se evidencia pelo uso de termos como "estrutura", "organismo" e "função".
Os teóricos funcionalistas e estruturalistas tendem a identificar estruturas sociais cujo caráter objetivo estaria associado a atributos coercitivos que exercem influência total sobre o comportamento dos indivíduos.
Na teoria sociológica de Elias, porém, a relação entre o "indivíduo" e a "sociedade" é concebida de outro modo. Norbert Elias não aceita qualquer tipo de concepção social "totalizadora" - e nem mesmo "individualista" - dos processos sociais.
De acordo com Elias, a principal tarefa da sociologia é "(...) alargar nossa compreensão dos processos humanos e sociais e adquirir uma base crescente de conhecimento mais sólido acerca desses processos".
A teoria sociológica formulada por Elias pode ser considerada uma abordagem de caráter crítico, cujos conceitos fundamentais foram construídos a partir da identificação das deficiências e limitações de perspectivas teóricas consideradas clássicas pelas ciências sociais, associadas, sobretudo, ao funcionalismo parsoniano (do sociólogo norte-americano Talcott Parsons) e a certas versões do estruturalismo.
As críticas dirigidas a essas abordagens teóricas centram-se, em primeiro plano, na refutação do arcabouço conceitual empregado, que provém da transposição de conceitos do campo das ciências naturais, em particular da física, da química e da biologia, cuja assimilação se evidencia pelo uso de termos como "estrutura", "organismo" e "função".
Os teóricos funcionalistas e estruturalistas tendem a identificar estruturas sociais cujo caráter objetivo estaria associado a atributos coercitivos que exercem influência total sobre o comportamento dos indivíduos.
Na teoria sociológica de Elias, porém, a relação entre o "indivíduo" e a "sociedade" é concebida de outro modo. Norbert Elias não aceita qualquer tipo de concepção social "totalizadora" - e nem mesmo "individualista" - dos processos sociais.
Um esboço da teoria sociológica
A teoria sociológica formulada por Elias concebe sua tarefa como a de analisar os processos sociais baseados nas atividades dos indivíduos que, através de suas disposições básicas - ou seja, suas necessidades - são orientados uns para os outros e unidos uns aos outros das mais diferentes maneiras.
Esses indivíduos constroem teias de interdependência que dão origem a configurações de muitos tipos: família, aldeia, cidade, estado, nações. O conceito de configuração pode ser aplicado onde quer que se formem conexões e teias de interdependência humana, isto é, em grupos relativamente pequenos ou em agrupamentos maiores.
Elias não aceita o pressuposto de que as sociedades têm fronteiras e limites especificáveis, pois as cadeias de interdependência escapam a delimitações e definições abrangentes. Segundo o autor, "a complexidade de se investigar algumas configurações decorre do fato de que as cadeias de interdependência são maiores e mais diferenciadas".
Norbert Elias denomina as configurações de estruturas, mas de modo algum o emprego desse termo guarda qualquer associação com a utilização do mesmo termo pelos teóricos funcionalistas e estruturalistas.
Esses indivíduos constroem teias de interdependência que dão origem a configurações de muitos tipos: família, aldeia, cidade, estado, nações. O conceito de configuração pode ser aplicado onde quer que se formem conexões e teias de interdependência humana, isto é, em grupos relativamente pequenos ou em agrupamentos maiores.
Elias não aceita o pressuposto de que as sociedades têm fronteiras e limites especificáveis, pois as cadeias de interdependência escapam a delimitações e definições abrangentes. Segundo o autor, "a complexidade de se investigar algumas configurações decorre do fato de que as cadeias de interdependência são maiores e mais diferenciadas".
Norbert Elias denomina as configurações de estruturas, mas de modo algum o emprego desse termo guarda qualquer associação com a utilização do mesmo termo pelos teóricos funcionalistas e estruturalistas.
Renato Cancian, Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação é cientista social, mestre em sociologia-política, doutorando em ciências sociais e autor do livro "Comissão Justiça e Paz de São Paulo: Gênese e Atuação Política -1972-1985" (Edufscar).
Artigo originalmente publicado em Educação/uol
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