Começo do século XXI, período marcado por mudanças. Possibilidades da humanidade controlar seus destinos, moldar as vidas para melhor. Mas “como esse mundo surgiu? Por que nossas condições de vida são tão diferentes daquelas de nossos pais e avós? Que direção as mudanças tomarão no futuro? Essas questões são a principal preocupação da sociologia. (p. 24) − “A abrangência do estudo sociológico é extremamente vasta, incluindo desde a análise de encontros ocasionais entre indivíduos na rua até a investigação de processos sociais globais” (p. 24) − a sociologia explica que os “dados” da nossa vida são fortemente influenciados por forças históricas e sociais; entender estas influências é fundamental para a abordagem sociológica. − “Aprender a pensar sociologicamente – olhando – em outras palavras, de forma mais ampla – significa cultivar a imaginação.
Aprender a pensar sociologicamente - em outras palavras, usar um enfoque mais amplo- significa cultivar a imaginação. O trabalho sociológico depende de algo que o autor americano Wright Mills, em uma célebre expressão, denominou de imaginação sociológica (Mills, 1970).
A imaginação sociológica nos pede, sobretudo, que sejamos capazes de pensar nos distanciando das rotinas familiares de nossas vidas cotidianas, para poder vê-las como se fossem algo novo.
Uma pausa para o cafezinho. O que Anthony Giddes, do ponto de vista sociológico, tem a nós dizer sobre o ato de beber um cafezinho. Acerca de um comportamento aparentemente tão desinteressante?
Podemos começar por notar que o café não é meramente uma bebida. Enquanto parte das nossas atividades sociais quotidianas possui um valor simbólico. O ritual associado ao ato de tomar café é freqüentemente muito mais importante que o consumo de café propriamente dito. Duas pessoas que combinam encontrar-se para tomar café estarão provavelmente mais interessadas em estarem juntas e conversarem do que em beber, de fato, café. Em todas as sociedades, na realidade, beber e comer proporciona ocasiões para a interação social e o desempenho de rituais – e tal fornece temáticas ricas para o estudo sociológico.
Em segundo lugar, o café é uma droga, pois contém cafeína, que exerce no cérebro um efeito estimulante. Os adictos em café não são vistos pela maioria das pessoas no Ocidente como consumidores de droga. O café, tal como o álcool, é uma droga socialmente aceitável, enquanto a marijuana, por exemplo, não o é. No entanto, há sociedade que permitem o consumo de marijuana e mesmo de cocaína, mas desaprovam tanto o café como o álcool. Os sociólogos estão interessados nas razões pelas quais estes contrastes existem.
Em terceiro lugar, um indivíduo que bebe uma chávena de café está envolvido numa complicada rede de relações sociais e econômicas de dimensão internacional. O café é um produto que liga as pessoas de algumas das partes mais ricas e mais pobres do planeta: é consumido em grande quantidade nos países ricos, mas cultivado fundamentalmente nos pobres. Depois do petróleo, o café é a mercadoria mais valiosa do comércio internacional, representando a principal exportação de muitos países. A produção, transporte e distribuição do café implicam transações constantes que envolvem pessoas a milhares de quilômetros dos consumidores. Estudar estas transações globais é uma tarefa importante na sociologia, na medida em que muitos aspectos das nossas vidas são hoje afetados por influências sociais e comunicações a nível mundial.
Em quarto lugar, o ato de beber uma chávena de café pressupõe todo um processo de desenvolvimento social e econômico passado. Com outros artigos hoje familiares nas dietas ocidentais – como o chá, as bananas, as batatas e o açúcar – o café tornou-se um produto de consumo generalizado somente nos finais do século XIX. Embora seja uma bebida originária do Médio Oriente o seu consumo maciço data do período da expansão colonial ocidental, há cerca de um século e meio atrás. Praticamente todo o café que se bebe nos países ocidentais provém de áreas colonizadas pelos europeus; não é de maneira nenhuma, um elemento “natural” da dieta ocidental. A herança colonial teve um impacto enorme sobre o desenvolvimento do comércio mundial de café.
Em quinto lugar, o café é um produto que está no centro do debate atual em torno da globalização, do comércio mundial, dos direitos humanos e da destruição ambiental. À medida que o café aumentou a sua popularidade, tornou-se um produto politizado e um assunto de marketing: as escolhas dos consumidores sobre que tipo de café e onde comprar tornaram-se opções de estilo de vida. As pessoas podem escolher beber apenas café orgânico, café descafeinado naturalmente ou café comerciado a preços “justos” (através de esquemas que pagam o total do preço de mercado a pequenos produtores de café em países em vias de desenvolvimento). Podem optar por apoiar cafeterias “independentes”, em vez das cadeias internacionais de cafeterias como a “Starbucks”. Os consumidores de café podem decidir boicotar café proveniente de determinados países onde haja pouco respeito pelos direitos humanos e o ambiente natural. “Para os sociólogos, é interessante perceber de que forma a globalização aumenta a consciência das pessoas acerca de questões que se passam em pontes remotas do planeta, incentivando-as a atuar no dia-a-dia em função desse novo conhecimento.”
Resenha:
GIDDENS, ANTHONY. Sociologia. 4 ed. Porto Alegre:Editora Artmed,2005 ,p. 24-27